quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Sancionada lei do Ensino Religioso nas escolas municipais do Rio de Janeiro

Um ensino confessional e plural. A partir do próximo ano letivo, as escolas com turno único da rede Municipal do Rio de Janeiro vão começar a oferecer aulas religiosas. O prefeito Eduardo Paes sancionou a lei do Ensino Religioso, na última quarta feira, 19, no Palácio da Cidade. O projeto prevê também a criação do cargo funcional de Professor de Ensino Religioso.
A cerimônia contou com a presença da Subsecretária de Ensino, Helena Bomeny, do arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani Tempesta, além de outros representantes religiosos, em um clima de confraternização.
Eduardo Paes defendeu a importância da cultura religiosa como conceito básico a ser aprendido na escola. Para ele, os valores de fraternidade e amor ao próximo, presentes nas religiões, são muito importantes para a formação do indivíduo:
“Essa sanção tem função e objeto específicos. Todas as religiões têm em comum o conceito de proteção às famílias e aos valores. Nenhuma religião prega a violência e a luta dos povos. Não estamos impondo a nenhuma criança e a nenhum jovem que tenha fé, que siga credo nenhum. Ao contrário, a gente quer que aquele que tenha seu credo, sua crença, que ele possa aprender os valores e os conceitos mais básicos”, disse o prefeito.
O ensino Religioso terá matricula facultativa e estará disponível na grade escolar do 1° ao 9° ano do Ensino Fundamental. A disciplina também poderá ser substituída pelo Ensino de Valores. Para que a lei fosse implementada foi realizada uma pesquisa amostral, onde cerca de seis mil pais foram consultados para identificar o perfil religioso dos alunos das escolas municipais. A subsecretária de Educação, Helena Bomeny, explicou que até fevereiro já haverá um panorama da demanda de cada credo.
“Na pesquisa do início do ano percebemos que 42% dos entrevistados seguiam a religião católica, 32% optaram pelo ensino de valores, 23% eram de religiões evangélicas e o restante dos demais credos. Agora, em novembro, faremos uma pesquisa em todo o universo da rede e em fevereiro já teremos todos os dados para saber a demanda específica para cada religião, esclareceu.
Um dos defensores do projeto de Lei, o vereador Reimont Luiz Otoni acredita que o Estado é laico, não ateu. Para ele, o ensino religioso vem agregar os pensamentos das diversas religiões no ambiente escolar, o que contribui para o diálogo e para o progresso na educação dos alunos.
“Vivemos um tempo onde os valores estão muito distantes, há uma desvalorização do que é simbólico na vida. E o ensino religioso vem fazer essa integração. Eu entendo que o ensino religioso é um elemento de costura, que vai traçar a dimensão religiosa no cotidiano da escola”, afirmou.
Dom Orani Tempesta parabenizou as autoridades empenhadas na aprovação da lei e defendeu que através do ensino religioso é possível formar valores do transcendente e do respeito às outras religiões. “Vejo o ensino religioso com muita esperança e alegria. Respeita-se, assim, a opinião e a nação brasileira na sua diversidade. Esse é o modelo de cidade que sonhamos. A escola não deve servir apenas para informação, mas também para formação”, opinou o arcebispo.
Sanção agrada líderes religiosos
Além da religião católica, os colégios da Rede Municipal também vão oferecer aulas sobre as doutrinas evangélica/protestante, afro-brasileira, espírita, orientais, judaica e islâmica. O presidente da Federação Muçulmana do Rio de Janeiro, Sheik Ahamad, também apoiou a criação do ensino religioso, o que para ele é fundamental para quebrar paradigmas relacionados às religiões.
“Desde o inicio, a Federação Muçulmana apoiou esse processo. Acho que acima da tolerância religiosa deve haver um respeito religioso. E trazer esses ideais de respeito, de pluralidade, para o ambiente escolar é sempre muito importante”, partilhou.
O reverendo da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Daniel Rangel, acredita que a lei do Ensino Religioso é o primeiro passo para a Igreja trabalhar junto da sociedade no incentivo à cultura e educação:
Durante muito tempo reivindicamos o ensino religioso nas escolas. Essa conquista vai transformar a educação brasileira em uma religião plural, não só no sentido do conhecimento, como no sentido religioso, e vai permitir que Igreja e sociedade trabalhem juntas”, opinou.
O vice-presidente da Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro acredita na importância das religiões se expressarem. “Essa lei representa o respeito religioso. Em um estado onde existe democracia é essencial que todas as religiões tenham voz”, afirmou.
A Secretaria Municipal de Educação fará um concurso para a contratação de professores para a disciplina de ensino religioso. Os profissionais deverão ser formados basicamente em História, Geografia, Filosofia/Sociologia e deverão apresentar documento de indicação feito pelos representantes da religião que seguem, como uma confirmação de vivência do credo, para que possam lecionar.

Lei 5.303 que autoriza o Ensino Religioso nas Escolas Municipais do Rio de Janeiro

Veja, abaixo, na íntegra a Lei 5.303, que autoriza o Ensino Religioso nas Escolas públicas municipais do Rio de Janeiro.
 
 Senhor Presidente, 
  Dirijo-me a Vossa Excelência para comunicar que, nesta data, sancionei o Projeto de Lei n.º 862-A, de 2011, de autoria do Poder Executivo, que “Cria no Quadro Permanente do Poder Executivo do Município do Rio de Janeiro a categoria funcional de Professor de Ensino Religioso e dá outras providências”. 
 Aproveito o ensejo para reiterar a Vossa Excelência meus protestos de estima e distinta consideração. 
 EDUARDO PAES 

 Ao 
 Exmo. Sr. 

 Vereador JORGE FELIPPE 
 Presidente da Câmara Municipal do Rio de Janeiro 


  

LEI N.º 5.303 DE 19 DE OUTUBRO 2011. 
 Cria no Quadro Permanente do Poder Executivo do Município do Rio de Janeiro a categoria funcional de Professor de Ensino Religioso e dá outras providências. 
 Autor: Poder Executivo 

  O PREFEITO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO, faço saber que a Câmara Municipal decreta e eu sanciono a seguinte Lei: 


 Art. 1º Fica criada no Quadro Permanente de Pessoal do Poder Executivo do Rio de Janeiro a categoria funcional de Professor de Ensino Religioso, para atuação exclusiva no âmbito da Secretaria Municipal de Educação – SME. 
 Parágrafo único. A composição numérica de cargos da categoria funcional criada por esta Lei corresponde a seiscentas vagas para Professor de Ensino Religioso. 


 Art. 2º O ingresso no cargo de Professor de Ensino Religioso dar-se-á mediante aprovação prévia em concurso público de provas e títulos, para atuação na rede Municipal de Ensino. 
 Parágrafo único. Constará do edital do concurso público que os professores admitidos para ministrar a disciplina de Ensino Religioso deverão ser aproveitados para outras disciplinas compatíveis com a formação, quando não houver, justificadamente, turmas específicas para esta disciplina. 

 Art. 3º As atribuições e especificações essenciais correspondentes à categoria funcional de Professor de Ensino Religioso encontram-se relacionadas no Anexo I desta Lei. 


 Art. 4º Os professores de ensino religioso deverão ser credenciados pela Autoridade Religiosa competente, que exigirá deles formação religiosa obtida em instituição por ela mantida ou reconhecida. 

 Art. 5º A implantação do ensino religioso, de caráter plural e de matrícula facultativa, priorizará inicialmente as escolas de ensino de turno integral. 

 Art. 6º A categoria funcional de Professor de Ensino Religioso estruturar-se-á nos padrões de escalonamento e de vencimento-base constantes do Anexo II desta Lei. 
  Parágrafo único. Os valores de vencimento-base constantes do Anexo II desta Lei referem-se ao mês de março de 2011 e estarão sujeitos aos reajustes gerais aplicáveis aos servidores municipais após aquela data. 

 Art. 7º Fica obrigada a Secretaria Municipal de Educação-SME afixar, nas escolas municipais onde será implantado o ensino religioso, em locais de fácil e clara visualização, cartazes de tamanho mínimo no padrão A3 contendo a seguinte informação: Aos Senhores Pais ou Responsáveis, a Disciplina Ensino Religioso é de matrícula facultativa, conforme o §1º do art. 210 da Constituição Federal. 

 Art. 8º Fica o Poder Executivo autorizado a regulamentar os procedimentos que se façam necessários em complemento à matéria de que trata esta Lei. 

 Art. 9º As despesas decorrentes da presente Lei serão atendidas pelas dotações orçamentárias próprias do Poder Executivo, conforme previsão na Lei Orçamentária Anual, ficando o Poder Executivo autorizado a proceder aos remanejamentos orçamentários, permitidos pela legislação aplicável, que sejam necessários ao cumprimento desta Lei. 

 Art. 10. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. 

 EDUARDO PAES 
 

 
 
 
 
ANEXO I 

 CATEGORIA FUNCIONAL 
  PROFESSOR DE ENSINO RELIGIOSO 


 HABILITAÇÃO MÍNIMA 
 Nível Superior com Licenciatura Plena. 


 CARGA HORÁRIA 

Dezesseis horas semanais. 


  ÁREA DE ATUAÇÃO 
 Unidades Escolares de Ensino Fundamental da Rede Pública do Sistema Municipal de Ensino. 


 DESCRIÇÃO SUMÁRIA 

Planejar, executar e avaliar, junto com os demais profissionais docentes e equipe técnico-pedagógica, as atividades do ensino religioso na aquisição de competências que favoreçam uma convivência fraterna e harmoniosa não só na escola como nos diferentes espaços sociais, preparando o aluno para a aceitação da diversidade e para o conhecimento da idéia de transcendência a partir de sua tradição religiosa. 


RESPONSABILIDADES GENÉRICAS 
 · manter-se atualizado em relação aos conhecimentos inerentes à sua especialidade docente; 

 · responsabilizar-se pelo planejamento, requisição e manutenção do suprimento necessário à realização das atividades pedagógicas; 

 · inteirar-se do Conteúdo Programático do Ensino Religioso a partir das orientações emanadas da respectiva autoridade religiosa; 

 · manter um comportamento idôneo e coerente com os valores preconizados pelo ensino religioso; 

 · participar da elaboração da proposta pedagógica da unidade escolar; 
 
 · cumprir as orientações emanadas da direção do estabelecimento escolar e dos demais órgãos da Secretaria Municipal de Educação; 
 · exercer a docência, de acordo com sua especialidade, direcionada a alunos dos anos iniciais e finais do ensino fundamental. 

 

 ATRIBUIÇÕES ESPECÍFICAS 

 · interagir com os demais profissionais da unidade escolar para a construção coletiva do projeto político-pedagógico, garantindo a inserção dos valores morais, éticos e espirituais em todas as ações e espaços de convivência; 
 · demonstrar interesse e comprometimento com sua formação continuada; 
 · promover o reconhecimento e respeito dos valores éticos inerentes a todas as manifestações religiosas; 

 · propiciar momentos de interação entre as diferentes matrizes religiosas trabalhadas na unidade escolar, visando a valorização e a visibilidade das diferentes práticas religiosas; 

 · contribuir para a formação de um aluno crítico, solidário, competente, autônomo, e protagonista da construção de uma cultura de paz. 

ENSINO RELIGIOSO:DA ESCOLA DA RELIGIÃO À RELIGIÃO NA ESCOLA


RESUMO

          Este texto monográfico tem como objetivo geral  Compreender  o perfil dos professores de Ensino Religioso indicado e autorizado pela Igreja Católica no Estado Rio de Janeiro.
O objetivo específico deste trabalho é apresentar inicialmente um histórico recente do Ensino Religioso no Brasil, destacando o processo de legalização do Ensino Religioso na  Constituição de 88, LDB/96 e na Lei 3459/2000, e posteriormente analisar as diferentes tensões presentes no processo de legalização. Buscar-se-á também compreender as tensões presentes em torno do Ensino Religioso promulgado em 2000, pelo Governador Anthony Garotinho.  Vamos evidenciar como as principais tendências pedagógicas influenciaram as concepções dos conteúdos e objetivos curricularres. São feitas considerações sobre o confessionalismo e interconfessionalismo, ciência da religião e teologia a partir de um exame de relações do FONAPER, da Arquidiocese do Rio de Janeiro com as propostas de leis apresentadas pelo ex- Deputado Carlos Dias e pelo Deputado Carlos Minc. A importância de uma reflexão sobre as tensões presentes no ensino religioso, sobre tudo no campo da educação, se deve a uma preocupação em relação aos desafios gerados no âmbito da educação contemporânea. Consideram-se também as principais tendências Pedagógicas no Ensino Religioso que contribuem para a elaboração de uma proposta curricular para o Ensino Religioso, bem como a definição do perfil do professor de Ensino Religioso.

Palavras-chave: Educação Religiosa - Ensino Religioso – perfil do professor-Tendências pedagógicas .

Vou socializar um trecho do 3º capítulo da monografia onde exponho minha hipotese de investigação desde 2007.

Perfil “legal-teorico-confessional e perfil “oculto-prático-interconfessional” 

Segundos Alves (2005) o professor de Ensino Religioso ao longo dos últimos vinte anos, vem realizando um processo de reflexão a partir da situação do país. Como conseqüência, compreendeu que o percurso a ser escolhido era a escolarização deste componente do currículo, o que implicaria assumir as três dimensões de currículo: formal (planos e propostas pedagógicas), em ação (aquilo que efetivamente acontece nas salas de aula e nas escolas) e o oculto (o não dito, aquilo que tanto alunos quanto professores trazem, carregados de sentidos próprios, criando formas de relacionamento, poder e convivência nas salas de aula).
Segundo a pesquisa de Cavaliere (2007),  há na prática cotidiana escolar  uma reelaboração feita pelos professores que está distante da lei  e que podemos ousar dizer: distante da proposta do Diretório Pastoral do Ensino Religioso. Cavaliere (2007) aponta na sua pesquisa que não se deve separar os alunos de acordo com a sua religião pela falta de professor. Na grande maioria das escolas entretanto, essa inclusão do ER na grade horária significou, na prática, um tempo vago compulsório para as turmas de 5ª a 8ª série e de ensino médio, já que cerca de 500 professores contratados nem de longe puderam suprir a necessidade criada. Não há atividades alternativas para os alunos que não tem professor de seu credo religioso e por isso na prática, ou ficam ociosos ou não são esclarecidos sobre a não- obrigatoriedade da disciplina na ausência do professor de seu credo religioso.
As informações colhidas por  Cavaliere (2007)  nos permite observações de que a efetividade do ER nas turmas de ensino médio tem sido pequena. Particularmente nas turmas noturnas, a presença é baixíssima, e os professores sentem-se desmoralizados e desmotivados. É com os alunos de 5ª a 8ª, que eles têm tido uma ação mais regular e efetiva, justamente pela obrigatoriedade de freqüência que ocorre na prática, embora, pela lei, o responsável deve autorizar que o aluno freqüente ou não a aula. Porém, na prática ele precisa tomar a iniciativa de desautorizar. Há um discurso contraditório entre a lei 3459/2000 e  a Prática docente do Ensino Religioso.
Se por uma lado temos uma lei que legaliza a confessionalidade no Estado do Rio de Janeiro, esta garante somente um aspecto legal e teórico. Por outro lado, observamos que na prática do cotidiano há uma  ação pedagógica oculta e interconfessional que tenta mediar a falta de professores para a demais confissões  e a evasão escolar transformando  na prática as bases fundantes da lei 3459/2000.
Neste contexto podemos defender que há um “perfil legal-teórico-confessional” e  um “perfil oculto-Prático- interconfessional” .
O status do professor de ER nas escolas depende, em grande parte, da posição da direção e do corpo docente em relação à presença dessa matéria na escola. De outra parte, depende das características individuais dos professores de ER e do espaço que conquistam ou obtêm nas escolas, variando bastante suas formas de inserção e atuação. Cavaliere (2007) traça uma tipologia do professor de Ensino Religioso  mostrando que seu perfil na prática do cotidiano escolar pode ser : 1)Sem prestígio; 2) Líder pedagógico; 3) Capelão; 4) Amigo dos alunos; 5) Orientador educacional (ver anexo).
A Proposta Pedagógica, para ter sentido, deve assumir, não como tarefa isolada, mas em sua essência, todas as ações humanas e, conseqüentemente, também as religiosas. O Ensino Religioso deve, pois, brotar do interior deste projeto, constituindo-se em disciplina, enquanto busca de conhecimentos religiosos e de fundamentos para um compromisso ético na perspectiva de um agir solidário e transformador das realidades aí existentes.
Essas abordagens antigas e limitadas aplicadas a uma mudança planejada e linear não são mais suficientes. Localizar e internalizar novas idéias e novas práticas não é algo que ocorre no vazio. Os professores são os criadores da sua atividade profissional, mas também são criações de seu local de trabalho. A maneira como o ambiente profissional do ensino é organizado afeta, de maneira significativa, o modo como o trabalho intelectual e emocional do ensino é concretizado (HARGREAVES  Apud ALVES 2005).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O artigo 33 da LDB é bem claro quando diz que a escola precisa assegurar  "o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil" portanto, não é lugar de proselitismo. Respeito à diversidade religiosa! Bem, parto do princípio de que não é possível respeitar sem conhecer, sem criar laços. Não respeitamos aquilo que não conhecemos. As crianças e adolescentes precisam ter contato, estudar, investigar, aprender sobre as diferentes religiões para respeitá-las e poder, um dia, fazer suas próprias escolhas. Conhecer símbolos, textos sagrados, mantras, orações e rituais. Precisamos promover um ambiente de respeito diante da experiência religiosa do outro. Ouví-lo falar com reverência e seriedade de sua própria crença e independente, de ter ou não religião, respeitar o espaço sagrado do outro e descobrir seu próprio espaço sagrado. E mais, é essencial que "no pleno respeito às escolhas religiosas dos alunos, os professores de ensino religioso deixem claro a sua própria convicções e também suas buscas". (Afinal, o que é ensino religioso?). Quanta riqueza nos traz o diferente! É só percebendo que sou diferente aos olhos dos outros, tanto quanto os vejo de forma diferente, que construímos relações de tolerância e respeito mútuo. Assim, fica claro o caráter de inter-religiosidade da disciplina Ensino Religioso. No Brasil, já temos essa realidade em Santa Catarina, Pará, Mato Grosso do Sul e temos Minas Gerais e São Paulo avançando na mesma direção. Lei 3459/2000 impede o Rio de Janeiro de buscar avanços para repensar um ensino religioso que  venha ao encontro da configuração atual da sociedade plural e globalizada.  Precisamos conhecer de perto estes projetos para criar nossos próprios caminhos.
Diante de tantas atrocidades, terrorismo, fundamentalismo, desigualdades sociais em todo o mundo, é urgente que se crie o novo, localmente, aquilo que nos cabe, o inédito viável de Paulo Freire, para garantir a transformação do Planeta. Não temos tempo para a divisão, o sectarismo, para o proselitismo. Todas as religiões têm uma Regra de Ouro: o Amor é a base fecunda de todas elas. É, também, o que deve nos unir independente da religião. Vivemos a era da informação, transmutamos informação em conhecimento que só serve se estiver a serviço de todos. "Assim, uma das vocações essenciais da educação do futuro será o exame e o estudo da complexidade humana. Conduziria à tomada de conhecimento, por conseguinte, da consciência, da condição comum a todos os humanos e da muito rica e necessária diversidade dos indivíduos, dos povos, das culturas, sobre nosso enraizamento como cidadãos da Terra..." (Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro). Somos co-criadores da obra do Absoluto, que é Deus. É nossa responsabilidade, aqui e agora, construir a Paz que só é possível quando, mesmo olhando com olhos diferentes, formos capazes de olhar na mesma direção. Por tudo isso acho imprescindível a disciplina de Ensino Religioso, mas precisamos de um caminho de estudo e discussões que deve continuar e avançar para chegarmos a um novo estatuto epistemológico e uma metodologia pedagógica que  possibilite ao aluno-sujeito, como ser histórico, a construção de relações e sínteses sobre o campo religioso e suas matizes. Acreditamos que ao abrir mão da confessionalidade, a religião não estará perdendo fieis e um campo de doutrinação. Ao contrário, estará formando um  futuro cidadão mais atento a sua realidade histórica  dialogando com os problemas contemporâneo do campo religioso e por conseqüência ampliando os fundamentos de sua convicção religiosa (Tradição)  baseada numa construção epistémica de  inter-religiosidade. O perfil do Professor para o Ensino Religioso deve contemplar esses princípios acima expostos, como aplicáveis para o avanço da formação deste  profissional e a superação da dicotomia entre um perfil teriórico e um perfil Prático . Somente a reformulação da lei não vai sanar esse dilema epistemológico, mas é preciso uma síntese pedagógica para traçar um novo perfil para esse docente desvinculada da Instituição Religiosa.

Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)


 

SOUSA, Leandro Soares de. Ensino religioso: Da escola da religião à religião na escola: Tensões e interesses ao defender a obrigatoriedade do ensino religioso nas escolas públicas estaduais do Rio de Janeiro. Trabalho de Conclusão de Curso de Pedagogia. UNESA , Rio de Janeiro,  2007. 60p.
ORIENTADOR: Profª Cássia Maria Baptista de Oliveira
S725   Sousa, Leandro Soares de   
Ensino religioso: da escola da religião à religião na escola: tensões e interesses ao defender a obrigatoriedade do ensino religioso nas escolas públicas estaduais do Rio de Janeiro / Leandro Soares de Sousa. –  Rio de Janeiro,  2007.60 f. ; 30 cm. 
Trabalho monográfico (Graduação em Pedagogia)–  Universidade Estácio de Sá, 2007.Bibliografia: f. 57-59.
1.  Ensino religioso (Ensino médio) – Estudo e ensino. I. TítulO.CDD 371.07

Como ser santo ?

De maneira jocosa e reflexiva pego carona nas ideias de meu amigo e mestre Eduardo para expor meu pensamento sobre como é o processo de santidade ou simplemente: como ser santo?

Na lógica popular, o conceito de santidade está frequentemente ligado às necessidades do dia a dia. Não é por acaso que, na nossa tradição religiosa popular, os altares onde ficam as imagens dos santos são frequentemente vistos como uma espécie de ‘balcão’ onde as pessoas levam seus pedidos, trocam graças por novenas, fazem promessas, o que implica no risco de uma religiosidade que fica presa apenas a esse lado “mágico”, onde a fé é transformada numa negociação onde posso “comprar” a graça de Deus como uma mercadoria. Verdadeiro escambo espiritual, com troca de rezas, velas, novenas, sacrifícios, romarias, e procissão por graças.

Mas a troca não é direta. Há os intermediários, santos e santas que acabam virando uma espécie de operadores do telemarketing celeste, encarregados de encaminhar e agilizar os serviços divinos de cura, socorro, auxílio financeiro, busca de amores e empregos perdidos e outras necessidades.

Em tempos de crise, valei-nos Santa Edwiges, padroeira dos endividados. E não é por acaso que dois dos santos mais populares no Brasil sejam São Judas Tadeu e Santo Expedito. É que as pessoas querem solução para suas causas impossíveis, e rápido!!! Este ano, atleticanos e cruzeirenses estão entre seus maiores devotos...

Apesar da minha visão crítica, respeito a religiosidade popular. Ela me fala, primeiro, da busca, do desejo de intimidade com o Sagrado. Compartilhar com Deus as coisas miúdas do dia a dia. Senti-Lo companheiro. Afinal, o Deus em que creio não é um comerciante atrás de um balcão, nem um SAMU ao qual recorro em caso de urgência. O Deus em que creio, revelado em Jesus Cristo, “está no meio de nós”

Esse Deus santificou a história humana quando se fez carne e habitou entre nós. Tudo, em mim e à minha volta, tornou-se altar. E no altar do dia a dia, santos e santas somos todos nós, tão humanos, tão divinos. Pois não somos imagem e semelhança do Deus que nos criou?

Por isso, rezo, todos os dias, com os santos que me rodeiam e caminham comigo, construindo com nossas frágeis mãos humanas o Reino que já está entre nós.

Valei-me São Tião, São Leandro e São Tarcísio, porteiros. Ensinem-me a abrir as portas do meu coração para o novo, para o sempre.

Valei-me São Betão, São Jabá, São Michel, São Ricardo,santos do altar mais numeroso do meu coração, entre tantos outros santos e santas, cuja graça maior é o compartilhar da amizade, amenizando dores, multiplicando alegrias, semeando utopias..

Valei-me Santa Tutu, que de tanto carinho e ternura, do fogão ao afago, não deve ter sido filha, já deve ter nascido mãe.

Valei-me São Daniel, São Thiago, São Lucas, que fizeram nascer em mim o pai que sou, o pai que tento ser. Com vocês aprendi a rimar amor e dor, e celebrar, todos os dias, essa coisa chamada esperança.

Valei-me meu santo aluno, minha santa aluna, que me possibilitam essa coisa parecida com eternidade, que é viver, a cada fevereiro, uma nova juventude.

Valham-me todos os santos, companheiros anônimos, desconhecidos, com os quais esbarro nas ruas, cruzo no elevador, no trânsito, nos corredores, nas escadas e esquinas da vida. 

Tragam-me a graça do amor simples, da fé com as mãos, da esperança sem alienação.

Amém!

 E você, a que santos quer recorrer, que graças quer alcançar?


Eduardo Machado
01 de novembro de 2011

" Fé e o Fax" para intuir os dogmas de Maria

Gabriel pertence a um tempo de desencanto da História do Brasil. Ele nasceu em 31 de março de 1964, junto com a “gloriosa”, a Revolução que mergulhou o país em quase três décadas de censura, repressão, obscurantismo e autoritarismo. Enfim, tempos de uma ditadura que, entre outras mazelas, congelou o desenvolvimento político do povo brasileiro, calou pela força a boca de quem ousou pensar diferente, sufocou lideranças, fazendo nascer o que costumo chamar de “geração das certezas perdidas”.
           Como cantou o Gonzaguinha, “um tempo em que lutar por seu direito era um defeito que mata...”
Começava 1985. Gabriel e a ditadura chegavam à maioridade, 21 anos! A ditadura militar dava seus últimos suspiros já que “de muito gorda a porca já não andava, de muito usada a faca já não cortava”, mas continuava difícil abrir a porta da História para o tal Brasil do futuro. Tão difícil que o primeiro presidente civil, Tancredo Neves, eleito indiretamente depois da fila de generais, num enredo que nem roteirista de novela mexicana poderia imaginar, morre sem tomar posse. E o Brasil do Gabriel entra na era Sarney, que Deus nos livre!
Deus não nos livrou, e chegamos ao fim da década de 80 com uma inflação de 84% ao mês!
Foi muito para o Gabriel que perdeu, literalmente, a fé. E não foi só a fé no Brasil. Gabriel radicalizou geral e perdeu também a fé religiosa, apesar dos apelos e preces de sua santa mãe, Dona Carlina, que se horrorizava com aquele filho ateu.
Gabriel, meio irônico, muito amargo, como tantos da sua geração, gostava de cutucar Dona Carlina zombando da sua fé e questionando os dogmas religiosos. Coisa fácil de fazer, uma vez que a fé, olhada apenas com os olhos da razão, é mesmo meio indefensável, quase ridícula.
Corta para a cena: Gabriel em casa, trabalhando. É, trabalhar em casa é mais um dos avanços permitidos pelos novos ares e a tecnologia do século XXI. Para alguns profissionais, um celular já é um escritório completo.
No caso do Gabriel, que deixou de lado a engenharia e hoje é representante comercial, além do celular há o computador, claro, e um aparelho de fax. Pronto, a empresa está montada. Que venham os clientes!
            Dona Carlina visita o filho. No quarto que funciona como escritório, o diálogo impertinente.
- Ah, mãe, deixa de história! Acreditar que Nossa Senhora teve um filho e continuou virgem? Que besteira!
De repente, um barulhinho, um chiado, um apito e do aparelho de fax começa a brotar uma longa folha de papel.
Dona Carlina olha aquilo, admirada.
- Que que é isso, meu filho?                        
- É um fax, mãe.
- Fax? Que trem é esse?
- É assim, mãe. Tenho um amigo que mora na Alemanha. Ele trabalha com a mesma empresa que eu. De lá me mandou uma lista de produtos e preços que temos para oferecer aos clientes. Ele pegou a folha com a lista, lá na Alemanha, colocou no fax da casa dele que a transformou num sinal digital que viajou, viajou e chegou no fax aqui de casa. Tá aqui, quentinha.
Dona Carlina pega a folha, ainda mais admirada.
- Quentinha mesmo. Olha que coisa...
-Quer dizer, meu filho, que essa folha tava lá na Alemanha, entrou num caixotinho feito esse, virou um sinal num sei o que, viajou, viajou, tomou o rumo de cá, rodou, rodou e achou, nesse Brasilzão desse tamanho, justamente o seu caixotinho, como é que chama mesmo?
- Fax, mãe...

- Pois então, achou o seu fax, direitinho, aqui na sua casa, desvirou de novo pra ser papel e brotou no caixotinho, do jeitim que saiu de lá?
- É, mãe, é assim mesmo.
- Dona Carlina, assuntou, pensou, calculou e concluiu:
- É, essas coisas é que fazem a gente acreditar na virgindade de Nossa Senhora...
- Como assim mãe?!
- Uai, meu filho; lá na igreja o padre diz pra gente que Nossa Senhora ficou grávida e era virgem. E que continuou virgem durante e depois do parto. E você acha difícil a gente acreditar nele! Mas agora me diz que este papel entrou num caixotinho lá na Alemanha, quase do outro lado do mundo, veio, veio, veio, atravessou o mar, veio, veio, achou nossa cidade, achou sua casa, achou seu caixotinho e saiu por ele ... e eu tenho que acreditar nisto que você tá dizendo?!!!
Vou embora. Um beijo, Deus te abençoe!


Eduardo Machado